quinta-feira, 14 de junho de 2012

Cidade

Hoje eu resolvi ser rebelde, e atravessei sem olhar para os lados. Hoje acordei revoltada e fui incapaz de dar bom-dia para o motorista do ônibus, ou ajudar com as sacolas da minha vizinha idosa. Abri os olhos já de saco cheio da vida e de toda a minha educação exagerada que ninguém percebia, eu sorria por que sempre imaginava a outra pessoa sendo estrangulada. Cansei dos meus passos falsos e incertos, joguei com força e intolerância o meu cigarro no chão, dane-se que irá sujar a cidade ou não, os prédios cinzas já acabaram com sua imagem. Fui pro trabalho querendo esganar meu chefe, todos os dias, no mesmo horário eu pontual, menos o meu salário. Cansei se escutar as buzinas apressadas, as pessoas caladas, cansei do som barulhento que as pessoas tristes fazem com seu silêncio. Fui caminhando rápido pra casa, a velocidade fazia com que eu esquecesse um pouco o rumor ao me redor, vejo a avenida de relance: O mendigo, o taxi parado e puta sem cliente, quanto clichê para uma cidade tão grande e medíocre. Hoje eu não resolvi ser rebelde, resolvi mesmo ser covarde e me esconder dos meus princípios, resolvi deixar a maquiagem borrada e o cabelo desgrenhado. Resolvi ser como todas as outras pessoas omissas que eu vejo e não conseguem se reconhecem no espelho, por que ao longo dos anos seja a maquiagem visível ou não ela borra e te desmancha junto.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Borboletas

Procurei por sinais em todos os cantos do mundo, em esquinas sujas, em becos escuros e até no circo da cidade, porém nada achei. Amores em pernas cruzadas, inimigos de braços abertos, sorrisos escancaradamente falsos e a desconfiança sempre presente, foi tudo que eu consegui encontrar em meu castelo de pedras. Eu abri a janela para o vento refrescar e deixar que a luz da lua transparecesse minhas dúvidas, eis que sem esperar me aparece um ser mais leve que uma pluma. Sem perceber já estava em meu quarto, não pediu licença e muito menos permissão para ficar, me rodeou e pousou calmamente no calor da lâmpada, será que finalmente minhas borboletas estão voltando? Contemplei com atenção seus leves movimentos, a graciosidade de sua beleza. Capturei hoje minha primeira borboleta e a soltei, não se pode prender quem nasceu para ser livre. Eu a carreguei até a janela, ultrapassei as grades e ali fiquei esperando ela alcançar voo. Esperei em vão, estagnada ela ficou e me contemplou de volta, como se soubesse do que eu precisava, ela preferiu ficar, para que servem as asas senão para voar?