sábado, 6 de março de 2010

Amigos secretos e outros segredos

No Sul, chama-se amigo secreto. Em outros Estados, amigo oculto. É quando realiza-se um sorteio para ver quem-vai-dar-presente-pra-quem no Natal ou em qualquer outra data festiva em que participe um grupo. Nesse final de ano, você terá pelo menos um amigo secreto na família, na turma, na escola ou no trabalho. Quem será?

Surpresa. Amigos secretos revelam-se na hora, faz parte da brincadeira. O que você talvez não saiba, e continue a não saber por toda a vida, é que também existe o apaixonado secreto.

Na loteria do destino, alguém abriu o coração e saiu seu nome. Talvez tenha tentado se aproximar e você não percebeu. Talvez faça parte do seu grupo há muitos anos e você nunca o tenha reparado. Talvez tenha lhe encontrado namorando, ou já casado, e discretamente escondeu o interesse para não perturbar a sua paz. Você pode ter, sim, um amor secreto e não saber a falta que pra ele você faz.

O presente que essa pessoa gostaria de lhe dar não se compra em shopping, não se paga à vista, não se financia. Você esteve ali ali para receber um beijo-surpresa, mas seu amor secreto não teve essa ousadia.

Ele pode estar há quilômetros de distância, se comunicando com você pela Internet, ou pode morar no mesmo prédio, estudar na mesma aula, freqüentar a mesma praia. Você não sente sua presença, mas talvez sinta sua ausência.

Seu amor secreto não revela-se porque sabe que você detesta cigarro, e ele fuma. Porque sabe que você só namora pessoas da sua idade, e ele é muito mais moço. Porque sabe que você riria da sua gagueira, da sua falta de grana, de seu embaraço. Seu amor secreto lhe deixaria atônito. Por isso, ele mantém-se discreto, platônico.

Entre amigos não há sigilo, só um suspense durante a festa, até saber quem irá, afinal, nos abraçar e revelar que está ao grupo representando. Já entre amores secretos não há abraços nem revelações. Alguém lhe ama em segredo, e o presente é manter você acreditando.

Martha Medeiros.

Sem título

Eu vi esse texo em um blog e achei essa parte muito apropriada, vejamos se gostam.

Te amar não é fácil, é quase o anti-amor. É muito quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o quanto você fraqueja, o quanto você se engana.
E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda.
E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado.



Tati Bernardi

Ela contra o mundo.

Eu gostaria de chamar a sua atenção, não para mim, eu não mereço tanto. Eu gostaria que você visse o mundo ao seu redor, visse que existe alguém, mais perto do que você imagina, querendo o seu bem, sofrendo pelo seu desprezo e morrendo de amores. Ninguém sabe por que de uma hora para outra ela fica mais atenta, quando toca uma música ou quando os olhos brilham do nada vendo alguma paisagem, mas ela sabe aonde está. Os amigos acham que não existe cura, o amor-próprio ela jogou fora, o orgulho foi para a lixeira, essa menina só pode estar vivendo no mundo da lua, todos pensam isso. Mas não é aonde ela está, é um mundo paralelo, algum desvio que a deixa mais próxima dele, mas mesmo assim não pode toca-lo, ou dizer palavras reconfortantes na hora da dor, ela não pode pega-lo no colo e oferecer seu ombro amigo, é arriscado demais. É como uma casa de vidro, não se pode ter contato com o meio externo e os barulhos se tornam cada vez mais altos por causa dos ecos, é agoniante. Dói pensar que ele sabe, mas que sua realidade o deixa cego, o poder imaginário de parar o tempo e o espaço, o fazem perder oportunidades incríveis, mesmo vivendo intensamente, acaba deixando uma parte da vida para trás.
Se eu pudesse, eu entraria no seu mundo, o deixaria de cabeça para baixo, seriamos eu e você, mais ninguém, eu não permitiria que ninguém te fizesse mal, ou te deixasse triste, eu brigaria com você até te ver sorrir, faria isso todos os dias se fosse preciso. Se fosse necessário, guerrilharia com o mundo para te ter, viveria em um barco, mesmo não gostando do balanço do mar, eu faria tudo e mais um pouco. E você, faria alguma coisa pela pessoa amada?

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Ela contra o mundo de Hannah Tobelém é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs.
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quinta-feira, 4 de março de 2010

Sorte grande.

O amor é assim mesmo, um dia te faz feliz e no outro acaba contigo. No inicio são só flores, ninguém possui defeitos e percebem que foram feitos um para o outro. Ele é o homem que você escolheu para viver, não existe sorriso mais lindo, ou abraço mais reconfortante, palavra nenhuma é mais terna, ele é bonita, fala bem, é inteligente e um poço de educação e simpatia, uau! Você tirou a sorte grande, o bilhete premiado é seu e de quebra ainda leva o homem dos seus sonhos para casa!
Aí o rapaz começa a te conhecer, percebe que a mulher mais animada e de bem com a vida tem o seu nome e é você, que a sua risada e charmosa, combinando com sua beleza e inteligencia. O coração é do tamanho de todo o planeta e algumas estrelas, chora vendo filme, ajuda os necessitados e os animais são seus preferidos. Como ela estava solteira por tanto tempo?
O problema é que a fase de conquista passou, ambos estão apaxainados e loucos um pelo outro, hora de mostrar a outra metade. Ele ronca, não divide edredon, se recusa a lavar meia e não suporta seu Cd do Caetano Veloso. Esquece datas importantes, gosta de maracana bem lotado num clássico Flamengo e Vasco, não avisa quando sai com os amigos e muito menos se vai chegar tarde em casa. Ele sabe ser bem irritante quando quer, não lava a louça e deixa a toalha molhada em cima da cama. Quando vocês brigam ele tem mania de bufar e acha que está sempre certo, já bateu a porta do quarto na sua cara, desligou o telefone no meio de uma discussão e de quebra não te ligou no dia seguinte. Aonde eu fui arrumar um desses, você se pergunta.
Ele também já descobriu seu lado macabro, sane que atrás daquele sorriso doce existe um temperamento difícil e explosivo, uma única palavra na hora errada e pronto, ela grita, fica vermelha e arma uma cena de novela. Ela acha sua mãe uma megera, odeia reunião de familia e simplesmente não suporta crianças. Fala palavrão quando tropeça, arrota feito um menino e sempre parece que está numa corrida de F1 com ela no volante, ela sabe o que te irrita e faz só para te provocar, coloca aquele vestido justo e fica femme fatale, por que sabe que seus olhos faiscam de ciumes. Você implora pelo seus benzinho de volta, trocaram aquele anjo em corpo de mulher pela gêmea má.
A verdade é que vocês brigam feito gato e rato, mas adoram a reconciliação. Vivem reclamando da comida sem sal, ou da cerveja quente, mas sabem como são competentes no que fazem, fazem só para implicar mesmo. Já pensou na sua vida sem essa turbulência, sem essas idas e vindas? Do que seriam feitas suas noites sem essa pessoas, até jogar gamão em um sábado a noite é divertido. Acredite, sem ela, sua vida seria tediosa e chata.
Mas o amor tem dessas coisas mesmo, e você agradece todos os dias por já ter encontrado a sua metade da laranja.

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quarta-feira, 3 de março de 2010

"Alô, é você?"

O telefone toca, eu saio correndo encharcada, estava no chuveiro, enrolo uma toalha no corpo fazendo o chão virar uma pista de patinação. "Alô, é você?", um sorriso escapa do meu rosto, sinto meu coração pular, a esperança retorna e eu acho que é você me procurando. "Posso falar com a Maria?", uma voz fria do outro lado da linha me pergunta sobre uma pessoa desconhecida, "Desculpe, não tem ninguém aqui com esse nome", desligo o telefone e volto para o meu banho, calmamente eu tiro as impurezas do meu corpo, tarefa que deixei para trás quando fui te atender. Eu me lavo toda, fico limpa novamente, visto uma roupa igualmente limpa e penteio meus cabelos molhados, a sensação de solidão nunca me fora tão forte.
Estava frio e chovia muito lá fora, eu ainda estava quente por causa da água com temperatura elevada, ligo a televisão, nada construtivo passando, o jornal continua mostrando todas as noticias ruins e a novela continua com o mesmo faz de conta, preparo minha janta, como em silêncio, não existe ninguém com quem possa conversar. Termino minha refeição, lavo a minha louça, escovo os meus dentes e vou dormir coberta com um edredon grosso. "Boa noite", ninguém responde, não existe ninguém para retribuir, ou para me dar um beijo ou me desejar bons sonhos. Como eu queria ser a Maria, pelo menos existe alguém procurando por ela e com certeza, ela está menos solitária do que eu.

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