quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Antes que tudo termine.





Vocês devem entender antes de começar a ler este texto, que o início é apenas o fim e a vida na verdade é apenas um piscar de olhos....


.... Nunca pensei em morrer desse jeito, com sangue escorrendo, os olhos abertos e uma multidão á minha frente. Nunca pensei que uma bala atravessaria minha cabeça, um tiro que nem era pra mim.
   Acordei as cinco da manhã de uma quinta-feira fria e nebulosa, eu não sei se levantei com o pé esquerdo ou era a passagem de Vênus pela Terra que me deixou daquele jeito. De uma maneira sútil e desconcertante eu deixei o porta-retratos cair no chão e percebi que aquela foto já não tinha mais importância. "O que diabos aconteceu comigo?" foi a primeira coisa que eu pensei quando me olhei no espelho, os cabelos desgrenhados, o rímel borrado e indícios de que um furacão tinha passado por mim. Eu já não aguentava aquela realidade, eram cartazes de sorrisos, comerciais de pessoas felizes, novelas e mais novelas sobre histórias de amor que nunca existiram. Será que eu existi? Será que nós existimos?
 Eu  me arrumo para meu trabalho, saio de casa e vejo meu gato me olhando pela janela, malditos olhos amarelos que me invadem e me deixam tão perdida em seu pelo preto, eu queria poder entrar em seus pensamentos e descobrir de onde vem tanta calma, tanta ousadia. Eu amava aquele olhar, por que de alguma maneira me lembrava tanto você: Do seu mau humor habitual, dos seus inúmeros corações que eu podia amar, das suas meias pelo chão. Não adianta chorar pelo que passou, nem pelo tornado que se instalou no meu peito, você é passado e eu o seu defeito.
 "Chega" grito silenciosamente para mim mesma, "nada mais irá me lembrar você, nada mais irá me lembrar da minha vida vazia, do meu trabalho escravo, das minhas roupas chinesas, dessas arvores caídas e tristes, desses pássaros engaiolados. Do que me adianta ser livre se continuo presa em liberdade? Se a minha prisão são apenas minha idéias e lembranças de uma realidade que nunca existiu..." Eu nunca completei o raciocínio, eu nunca desejei morrer, apenas silenciar um presente que batia em minha cara, eu nunca desejei aquela bala em minha cabeça. Mas vocês devem entender antes determinar de ler este texto, que o início é apenas o fim e a vida na verdade é apenas um piscar de olhos e os meus cílios foram virados para você.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Nossos umbigos tão egoístas.



Eu queria plantar nos nossos umbigos uma cria de felicidade e simplicidade, eu iria regar com suas gotas essa minha muda tão calada. Eu iria prende-la com sua terra e usar seu olhar como adubo, por que não há nada mais divino do que a prisão dos seus olhos. Ela iria crescer verde e fazer dos nossos umbigos seu prato de flores e porto-seguro, mas nossos umbigos são tão egoístas, nós não permitimos que nada cresça neles e deixamos o natural no canteiro da rua. É assim que nossa muda tão calada cresce, sempre aos olhos de outros, nunca na nossa frente. Uma vez eu fui na esquina aonde a deixamos e ela já estava grande, colhi alguns frutos, uns eram doces, outros amargos, era a mistura de nossos sabores.
 Depois de ter visto a natureza fazer seu papel fora de mim, eu percebi que estou presa nessa grande caixa que é meu coração, se o errado vem eu digo sim, se o certo vem eu digo não. O que o meu umbigo teme é a mesma coisa que o seu: Que seja apenas um arbusto, sem frutos, nem cor. O meu problema é que eu adoro o verde e fico fascinada quando o encontro em você e o amarelo do sol já não me cega mais, nem o vento frio corta a carne.
Eu sei que em algum lugar, em algum umbigo menos egoísta e medroso ou em algum canteiro mal cuidado, o nosso arbusto ou arvore cresceu e agora da sombra para quem sofre com o calor, como eu. Nosso arbusto de sonhos cresceu e se escondeu da gente.