sábado, 28 de maio de 2011

Carta de despedida.

Ainda vejo sua mão acenando para mim como quem diz "Vai ser feliz", ainda lembro da mescla de orgulho e saudade que seus olhos transpareciam. Você esperou que o nosso grande separador fosse embora, ficou contemplando sua imagem magnética e pensando como o tempo passa rápido, não foi ontem que você me segurou no colo? Ah, o tempo! Cruel e misericordioso, como um pai que ensina ao filho os bons costumes, agora ele nos ensina a dor da separação mesmo que seja temporária. Quantas perdas nós tivemos, é triste lembrar que muitos já não estão aqui para acenar como você acena para mim. Mas as vitórias, essas foram grandiosas, por que sempre conseguimos nos levantar depois de uma rasteira da vida e foram muitas. Nos apoiamos, como se fossemos dois braços de um único corpo, choramos como se fossemos apenas uma tristeza e agora nos despedimos com a certeza da saudade e a insegurança do amanhã.
Teu ombro que já conteve meu choro agora chora sozinho, não por não possuir mais ninguém, mas por não ter mais meu corpo físico, a minha alma estará sempre contigo. Agora estamos vendo paisagens diferente, em locais distantes. Vê mãe como a vida é bela daqui também, a felicidade reina e a beleza do aprender é plena. Além de ti, deixo os meus tesouros, os amores da minha vida, meus filhos peludos. Se a palavra do homem vale um escrito, eu grito: Volto maior do que já sou, com um amor maior do que já tenho, com saudades eternas do meu tempo.

domingo, 22 de maio de 2011

Tempo-retrato

Já não podia mais te contemplar, sua pele e seus pelos me olhavam, imploravam para um toque. Já não bastava te contemplar, era necessário adorar, tocar, beijar e unir a pessoa a um só corpo. Não queria te contemplar, pois sempre que via seus olhos grudados a mim eu lembrava que estava preso a outra. Não sei se procurava sinais apenas me observando, por mais que nossos olhares se prendessem como se fossem condenados, não mostrava o calor que sinto da sua pele.
Então, eu vejo você me contemplando, me olhando como eu te olho, me desejando com o meu desejo. Percebo que ambos nos contemplamos como quadros pregados na parede em frente. Uma obra de arte pintada em cores vivas e lúcidas. Um tempo-retrato mostrando o que fomos em vida.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma casa muito engraçada.


A casa velha e abandonada fazia eco em meus ouvidos, cada vez que escutava falar de suas paredes mal pintadas e de seu piso solto sentia que uma faca atravessava meu peito. Nunca esqueci daquela casa e nem da escada que vivia nela,tão antiga e empoeirada com seus degraus defeituosos e traiçoeiros. Nos dias de hoje quando me pego embaçada e triste lembro sempre da escada frágil que unia os andares, marcada por altos e baixos dos degraus e alguns buracos pelo tempo, a escada sempre permanecia de pé. Como eu sinto falta da minha escada.
Ainda consigo ver a paisagem da janela, sempre interrompida por uma cortina de água, lágrimas que teimavam em cair de meus olhos. Como eu sinto falta do meu jardim mal cuidado. Mesmo antiga a moradia era forte, como madeira e pedra fez de barrancos sua fortaleza. Como eu sinto falta do meu abrigo.
O telhado já sem telha deixava a chuva banhar e lavar a sujeira que existia nela, inundando seus quadros e moveis, afogando seus moradores. Era uma casa velha sem tintura e bastante turva, uma velha casa de olhos e lembranças. Lembranças que não me esquecem. Como eu sinto falta daquela casa...

sábado, 14 de maio de 2011

Sozinho

De tanto procurar amores em pernas avulsas
Descobri o tesouro escondido ao meu lado
Entre conversas altas e confusas
Avistei suas terras profundas
Desvendando o melhor e pior do mundo
Bem daqui, protegida no meu partido alto.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tereza

Uma música de cabaré tocava ao fundo, Vicente nunca soubera qual era a língua cantada, sempre ficava hipnotizado pelo corpo de sua amada Tereza. Em cima da cama bagunçada, provas da noite passada, a doce ninfeta fumava seu cigarro, o cheiro forte de fumaça e vicio invadia o quarto como uma virgem na sua primeira noite de amor. Trinta anos de diferença, aos quarenta e cinco o grande pintor Vicente se apaixonara perdidamente por uma menininha. A grande distancia entre as idades assustava qualquer um, menos a diabólica Tereza. Digo diabólica por que só o diabo pode condenar o coração de um homem como aquela adolescente sem pudor e cheia de fantasia fez. Seu sorriso cheio de dentes e seus olhos cheios de segredos encantavam qualquer passante.
A malícia na ponta dos dedos e o enrolar dos cabelos diziam claramente o que ela pretendia, prende-lo. Se sua boca sorria, seus olhos falavam "Quanta ousadia". Era rotina se recolher toda noite no quarto da probrezinha, sempre desnuda e pronta para ele, o grande artista memorizava e imortalizada a imagem daquela pequena, "minhas armas de trabalho imortalizam o seu tempo" era apenas o que ele falava.
Que relação estranha que os dois tinham, parecia cena de filme mudo, aonde só os olhares e dentes conversavam, conversas que duravam horas até o dia amanhecer. Todas as noites antes de voltar para a casa o rapaz a escutava dizer "Hora de acordar" e todos os dias abria os olhos e voltava pra realidade do lar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Q de solidão

Hoje estou em pedaços
Tanta mágoa e vergonha
Destino do teu caminho mal traçado
Por passos falsos
Dentro dos seus sonhos aprisionados

Os pulsos erguidos em sinal de redenção
A voz grita o silêncio de mais um sufocado
Vejo na cena pouco carater e muita solidão
Por alguém que passeou na vida e se deixou de lado

E aos olhos abrir, viu o rebanho correr
Era uma manada enfurecida
Correndo de encontro a vida
Vida que te escorreu

Foi se encontrar no bar com suas armas
De pele e alma com muita calma
Bebeu para esquecer que viveu...
Para esquecer de viver...
Mas esqueceu de se esquecer...

Porém, um belo dia ele lembrou que morreu