terça-feira, 9 de novembro de 2010

Atrás dos olhos.

Eu não sou o tipo de pessoa que precisa de um herói, uma salvação. Eu não preciso de luz ou de asas brancas ao meu redor para me sentir segura, muito menos de uma aureola para mostrar que sou boa. Eu não preciso do seu amor, do seu carinho, dos seus braços quentes perto de mim, eu sou assim. Eu não preciso das suas palavras, não suporto o movimento da sua boca, eu necessito do seu silêncio, do seu abismo. Eu preciso de olhares, sorrisos, dos seus suspiros. Eu preciso do cheiro, do tato, do sabor que nunca existiu. Eu quero a sua paixão extrema, o seu desejo pela morte.
Não me chame de meu bem, eu não sou o seu bem. Eu sou o seu mal, o seu vicio, o seu veneno. Eu sou o seu anjo caído, eu sou a sua vontade pelo errado, sua ganancia. Não existe bem e mal, existe a sua consciência e suas atitudes pensadas. Eu não sou o seu diabo, não existem demônios. Eu sou o seu ego inflamado, inchado por não ser reconhecido, eu sou o seu amor-próprio ferido.
Eu não posso te mudar, eu não quero isso. Eu te manipulo, te prendo entre minhas pernas, te arranho com as minhas unhas, te dreno com a minha loucura. Tudo não passa de um jogo, onde você é o protagonista e eu fico atrás da cortina brincando com as linhas invisíveis e te trazendo sempre ao meu encontro. Eu não preciso de mentiras, eu nem preciso existir, posso ser quem eu quiser: Júlia, Fernanda, Miriam, Anita, Maria. Eu tenho minhas mil faces, da qual você não conhece nenhuma, posso ser mil amantes e você não vai amar alguma. Eu sou o seu desejo utópico reprimido, eu sou o seu grito contido, sua vontade sem ação.
Eu te amo, eu te amo tanto, que morreria com você. Iria para onde você quisesse ir, iria eternizar nosso amor e ódio, concretizar o inexistente. Eu não morro por você, mas morro com você. Eu vivo em você, a sua vida é minha, sem você eu não existo.
Afinal de contas, se você se olhar no espelho, verá o meu olhar de cólera, minha expressão intensa. Eu sou você, Carlos.

Escutando o testamento de amor de Joana, Carlos pega uma arma e mira na cabeça pensa em toda a sua vida ao lado daquela mulher de asas negras, seu único amor, sua única confiança. Ele sorri, diz um Adeus para o espelho e puxa o gatilho. Joana e Carlos, Joana ou Carlos, finalmente se eternizaram.

Um comentário:

  1. Cara, depois dessa até te incluí na lista de "Termos Comuns" de La Catedral das Letras.

    Você fez por merecer!

    Tá excelente! Extraordinário!

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