quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Boneca II



Minha Boneca tinha inumeros remendos, alguns eu ajudei a costurar, outros ajudei a abrir. Eu amava os vestidos que ela usava, azuis, brancos, vermelhos, todas as cores refletiam o seu olhar e eu me sentia preso em todas as suas roupas. Detestava o jeito como ela os vestia e ia para rua, minha Boneca era só minha e embora nao percebesse atraía os olhares de estranhos e até mesmo de meu irmão. Detestava o sorriso canastra que ela lançava para o rapaz da venda, ele era um idiota que babava em cima de minha jóia. Eu detestava seu jeito manipulador, mas nunca conseguia me afastar. Ela gritava, rodava e colocava o indicador em minha face e logo em seguida passava a língua em minha orelha me chamando para seu corpo.
É impossível esquecer todas as nossas cenas juntos: O modo como ela mordia a boca quando sentia prazer, a força com que pressionava os pés contra o colchão quando faziamos amor, ou quando sussurava em meu ouvido "benzinho" logo após gozar. Eu me lembro perfeitamente como ela segurava a cabeceira da cama pronta para ser violada e exposta em sua própria casa.
Ela sabia o poder que exercia sobre mim e eu tão tolo e otário transparecia a cada encontro minha cegueira amorosa, como era possível uma menina me possuir e me sangrar tanto com ela fez?
Eu nunca soube seu nome, ela sempre evitou falar. As vezes eu a achava com cara de Alice, outras com modo de Anita. Creio que foi por isso que me perdi por aquelas pernas, o grande mistério me fez a amar como se não houvesse outra mulher no mundo. Eu não a conhecia, não sabia seu nome, sua idade verdadeira, nem se era real de fato. Ela não nasceu, ela foi inventada, criada de um modo que em apenas um corpo todos os personagens vivessem, como se todas as mulheres do mundo morassem em sua alma e dessa forma todas as loucuras do mundo invadiam minha cabeça.

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