quinta-feira, 30 de junho de 2011

Vês

Viva-te, pois só desta maneira poderás conhecer a vida, caminha-te com teus próprios pés para mostrares ao mundo as milhas que caminhaste descalço. Sorria-te quando o mundo virar-lhe as costas e te crucificar, pois tua coroa de espinhos és tua e de todo um mundo. Quando a ventania derrubar-te e levar-te as suas raízes, erga-te e abençoa-te com tuas lágrimas, pois és água corrida, lavada em tua alma. Agradeças todos os dias pelos espinhos plantados e pela mágoa velada para que nunca esqueças tuas origens.
Vês, meu eterno cupido, as estrelas do céu não perdem o brilho mesmo sabendo que desaparecerão pela manhã. Vês, meu anjo dilacerado, como tuas asas ainda brilham aos olhos meus, como teu sorriso me inebria. Erga-te teus olhos e contemple um novo mundo...Ergue os olhos, meu bem, ergue os olhos!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Próximo.

Era o tipo de beleza que te fazia pedir perdão pelos pecados cometidos, bastava um fio de cabelo para prender a eternidade, bastava um olhar e tudo estava acabado. O amor. A vida. O destino. Eram apenas navalhas que cortavam o ar, eram corpos nus completamente cobertos pela hipocrisia do ser e do sentir. E o que seria o amor senão uma grande ilusão de óptica, que te massacra e te remenda até você não ter mais fôlego para respirar. Então, somos forçados a engolir uma realidade que não existe criando expectativas em cima de mentiras, doces mentiras. O penar de um pensamento indeciso é o reflexo de uma busca sem fim por paixão, prazer e dor.
O ciclo biológico nos mostra como a vida se renova e desta maneira fazemos novos caminhos, menos ousados e mais bandidos, deixando cicatrizes, lava e cinza por onde passamos. O que seriam meus passos senão marcas em areia seca que se desmancham com um novo vento, o que seria minha boca seca senão o desejo de se unir a lábios ressecados, o que seria da cura sem o câncer. O que seria do amor sem sua desilusão.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dúvida.

Encontro teus olhos perdidos nos passos vazios de outros pares, os calçados usados passam despercebidos até se cruzarem. As mãos frias e ásperas voltam a se tocar e as bocas fechadas abrem-se novamente em sinal de redenção, misericórdia para anos de silêncio. Os dedos que massageiam a pele percebem como o corpo amadureceu, a coluna ereta pronta para se defender se desmancha em prazer fazendo relembrar as estrelas, quantas estrelas.
O sangue vivo pulsando nas veias é o sinal de que não existe dor, nem lágrimas para serem choradas. Não existe vitória para ser comemorada ou derrota para se desistir, há apenas o presente e o estado físico que está a nossa frente. Cara a cara com a dúvida, meus olhos displicentes percebem que existe apenas um caminho nas sombras para ser revelado, revelação que apenas o futuro incerto de nossos passos amedrontados pode nos mostrar.