quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Violetas na janela.



Eram as violetas que chamavam a minha atenção, presas em um vaso antiquado e frágil. Já não cabiam no recipiente, caiam aos montes tentando fugir mesmo estando mortas. As flores sem vida davam um tom funebre a paisagem, meus olhos já cegos não eram acostumados com luz e fitavam com penar o cenário que encontravam. Um quadro antigo, uma cama desarrumada, ainda com cheiro da noite passada, uma louça suja e o seu retrato.
Era melancólico pensar quanto tempo estive fora, não deixei bilhete, fotos, acessórios... Fui embora como se nunca tivesse pertencido aquele lugar, deixei apenas arranhões no espelho do quarto. Não consigo imaginar acordar todos os dias no mesmo lugar com aquelas marcas sempre refletindo um rosto desfigurado.
Agora que retorno depois de tantos anos, será que ainda é o mesmo? As violetas continuam na janela esperando que eu as reguem como fazia todas as manhãs, infelizmente não sobreviveram ao meu abandono. Será que a barba continua igual e os seus olhos, ainda são azuis? Não encontro nenhum porta-retrato recente apenas fotos velhas, sem vida.
Logo que cheguei me deparei com seu novo amor, ou amores, não entendo por que existem mais crianças aqui. Mas me pergunto, por que a fechadura não foi trocada, nem a decoração, nem a minha foto. Era a única coisa minha dentro daquela casa, uma foto. Logo hoje que fazem exatos dois anos que eu te deixei, não perguntei se faria falta, nem mencionei pra onde ia. Apenas abri a porta e fui embora. Ainda não entendo como tudo aconteceu.
Dois anos. Eu começo a caminhar pela casa e finalmente te encontro chorando, um choro de saudade, dessas que fazem doer o peito e a alma. Agarrado a foto do nosso casamento te escuto balbuciar "Até que a morte nos separe não acabou com meu amor", então entendo seu sofrimento o meu abandono foi eterno e descubro que não passei de uma alma penada descolada do meu corpo.


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Violetas na janela. de Hannah Tobelém é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Vedada a criação de obras derivativas 3.0 Unported.
Based on a work at alicequeramar.blogspot.com.

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