Hoje de manhã passei em frente a uma construção, estavam
acabando uma casa pequena e simples dessas que uma família inteira mora e ainda
agradece pelo teto em suas cabeças. Tinham tijolos espalhados pelo chão, no
meio deles vi uma esperança que ninguém mais viu, vi uma promessa de vida
melhor, de novos sonhos e rotinas... Atravessei a minha ponte.
No meu percurso, eu podia ver muitas coisas através do
vidro: Pessoas indo trabalhar, poças d’agua sendo secas pelo sol que já nascia,
um novo dia, um novo olhar, novas pessoas dentro de velhas roupas, meu próprio reflexo.
Quando eu cheguei no meio do percurso vi
uma outra casa sendo demolida, metade dela já estava no asfalto já não existiam
tijolos, apenas entulho, quantas pessoas moraram ali? Quantas lembranças um
simples tijolo com cimento pode proporcionar? Pensei o dia todo nisso, o futuro
e o passado se mesclam de uma maneira que o presente deixa de existir e eu
agradeci em voz baixa por poder ter todos que amo a minha volta.
Eu já tive minha casa demolida, explodida com uma bomba, vi
seus pedaços indo pro ar e depois baqueando no chão, vi as janelas indo embora
com a porta trancada, o tapete de boas vindas já não existia mais, minha casa
se foi, mas minhas lembranças continuam vivas e coloridas. Eu perdi alguns
quadros antigos que eu amava com todas as minhas forças e foram embora sem eu
poder contempla-los por uma última vez, o telhado que nos protegia foi
arrancado com o vento e talvez proteja outra casa agora, preserve o assoalho de
uma família que precise mais que a minha.
Os muros foram os últimos a caírem, mas esses eu mesma fiz questão de
tirar, tijolo por tijolo, briga por briga, lembrança por lembrança. Recolhi
seus pedaços do chão e prometi a mim mesma que este muro que eu desfiz não ira
para minha nova casa, não irá tampar minha visão, nem mesmo impedir alguém de
entrar. Pois agora, eu não tenho uma nova casa. Eu tenho um novo caminho, uma nova ponte que
eu fiz com os tijolos que me privavam do mundo, eu tirei os olhos chorosos e
recoloquei o sorriso, colhi os últimos frutos da minha jabuticabeira velha e
doce, ignorei os problemas do passado, selei as brigas antigas, amadureci meu
futuro.
Não importa se é uma casa, uma ponte ou um avião que você
deseja, o novo sempre vai existir. Portas podem estar trancadas ou abertas,
assim como o seu coração. Limpa a poeira do móvel antigo, acrescente mais uma
foto na sua parede, coloca mais água no feijão que sozinho ninguém vive,
sorrisos não foram feitos para serem amarelos e nem os olhos escondidos em óculos
de sol. Entre pontes e tijolos eu fui ao chão e também ao céu, eu tive ombros e
mãos para me ajudar, assim como pés para me pisar, de nada adianta o futuro se
com tantos tijolos é o muro que você prefere. Diga sim e sinta pela primeira e
ultima vez sinto o vento do verão lhe alegrar o rosto.
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