quinta-feira, 10 de junho de 2010

Da para sentir falta do que nunca se teve?

Eu sinto uma dor enorme e a cada dia ela me possui mais, me livrar dela, seria livrar-me de mim. Cresces-te comigo e eu te dei minha consciência como alimento, durante anos eu te vi amadurecer, sem razão e com motivo, ou seria ao contrário? Toda vez que eu relembro o meu passado eu te sinto mais forte, como se estivesse no meio do meu ser e crescendo, abria meu corpo, arrombava a minha alma. Devolva minha vitalidade!
Você foi regada durante anos pelo meu sofrimento e eu te cativei sem ninguém saber, como um bastardo no seio de uma família. Durante as noites deitada na minha cama, trancada no meu quarto escuro, você não falava, gritava, berrava o que eu não queria ouvir, mas durante o dia era mais contida, era a vergonha da sua existência se mostrando. Mostrar a depressão é o primeiro sinal de fraqueza e eu precisa ser forte.
Eu jurei para mim mesma que tinha te contido, e feliz, acreditei nessa ilusão. Agora, você é um demónio, o meu, e me domina, me possui, esquecendo que fui eu quem te criou!
Depois de me consumir por inteira você se torna maior do que eu, me fez criar olheiras fundas e roxas, quase pretas, com um expressão de falta de...tudo. Toda vez que eu olho o meu espelho é você quem eu vejo, pálida, cinza e com um sorriso cruel, caracteristico seu. A saudade, o remorso, a intolerância, são seus aliados contra mim, estou em guerra,preciso me combater.
Você deve estar inteira, pois virou um trauma, uma rachadura profunda e quente, dilacerando tudo a sua frente. Eu sinto que a cada dia que eu te alimento, me mato aos poucos, como um viciado.
Eu fico pensando, se dá para sentir falta do que nunca se teve. Dá e dá pra sentir dor também.

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