quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Asfalto

Era de uma solidão extrema e tão amarga que até o café sem açúcar se sentia doce, seu silêncio possuía todas as silabas tônicas que um ditador conseguiria pensar e o seu sorriso era mais amarelo do que a boca de um fumante. Era de uma matemática invejável conseguia somar olhares com estranhos mas subtraia a alegria, multiplicava os segredos e dividia os pecados, não podia se queixar de muita coisa, vivia conforme queria:sem regras, sem amor, sem rotina. Era de uma presença sem igual, se fosse quente era lava, se fosse frio tempestade. Mas a sua ausência era o que mais me incomodava, seu silêncio, o batucar dos dedos como se sempre estivesse esperando alguma coisa, os tremores de olhares e as mordidas nos lábios, provas concretas de uma agonia sem igual. Acendia um cigarro e mostrava completo desinteresse pelo mundo a sua volta: a criança chorando pelo peito, o senhor que não tinha dinheiro para o aluguel, a prostituta na esquina. Fechava os olhos e olhava para cima, nada de fato mudaria sua vida. Era tão medíocre quanto a poeira no asfalto, e o asfalto dava-lhe nojo.

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