sábado, 10 de dezembro de 2011

Um quarto.


Era uma manhã de quinta-feira nublada e fria, um daqueles dias que você demora para levantar e reflete na vida, foi quando eu lembrei, mais uma vez, das cenas que marcaram o mês de outubro. A chuva não parava de cair e o som era quase como uma música clássica rompendo aquele silencio habitual de dois estranhos, mas não eramos estranhos. A meia luz iluminava apenas metade do seu rosto, meio homem, meio animal. Eu como sempre fui predada, me deixei ser caça abatida, meio morta-viva para poder te ter novamente, agora tudo faz sentido: A meia luz, as cortinas esvoaçando, a cama pronta para ser desarrumada. Eu me lembrava do cenário, das falas, dos personagens... Me reviro na cama com vertigem, não era nojo, era um prazer agonizante de ter mais uma vez os lençóis me cobrindo e o seu riso em cima de mim.
As suas mãos deslizando por mim como se fossem gelo derretido, as tabuas de madeira que guardaram em sua estrutura o nosso segredo, o espelho maldito que nos refletiu e me mostrou quem eramos de verdade. Por que, por que é sempre tão difícil? Meu cabelos enrolados em seus dedos e seus olhos me encarando, como se eu fosse o demônio e você o crucifixo, sua boca me mentindo e minha carne desfalecendo. A luz amarelada fazia com que a lua fosse apenas uma lampada, você sempre tampou a claridade. Depois de tanto tempo separados, voltamos para o mesmo quarto de motel barato que frequentávamos. Não é amor, é escravidão.
Termino minha reflexão barata sobre tudo o que aconteceu, levanto com desejo de você, com vontade de lençóis limpos e janelas abertas, com desejo de cortinas quietas e sem vento arranhando o vidro. Me olho no espelho tentando disfarçar o olhar de reprovação que eu mesma me lanço. Percebo que não acordei apenas para ir trabalhar, acordei para uma outra vida, um tormento que é viver no abismo do teu amor.

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