quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Boneca I




Eu nunca tinha me deparado com uma criatura tão intensa quanto aquela menina, até hoje não sei seu nome verdadeiro, mas eu a chamava de boneca. Boneca tinha uns olhos escuros desses que escondem a verdade e cospem na sua cara as mentiras que você precisa para viver, bastava um olhar e eu me sentia preso em um labirinto sem saida ou caminho. Seu vocabulário indeciso e agressivo mostrava o quanto ela queria de mim e quão pouco eu podia lhe oferecer, seu o sorriso era lindo, nem tão largo que feche os olhos e nem tão curto que não mostre os dentes, e os dentes eram tão bonitos que refletiam em seu amarelado toda a felicidade de seus segredos. Eu adorava todos os seu gestos e a mania de rir depois de me enganar, ela era uma aranha e eu estava completamente preso em sua teia.
Eu confesso, tinha medo de quando ela me olhava diretamente nos olhos e me encarava com a seriedade de um ancião, as vezes parecia que tinha dez anos e outras parecia ter cinquenta. Era enebriante seu perfume, a colonia que ela usava me deixava com seu cheiro até a alma e sua paixão me invadia como se eu fosse um pobre coitado a procura de um abrigo. Ela não foi a mulher mais bela que já tive, mas sem sombra de duvidas foi a mais envolvente, seus cabelos contra meu peito e suas unhas em minha pele faziam com que eu pedisse perdão pelos pecados e pela minha traição diaria ao seu amor.
Hoje em dia, mesmo tendo passado cinco anos, eu consigo sentir o corpo dela em meus lençois, como se ela ainda habitasse minha cama, minha mente, meu coração. Sinto falta das frases de efeito e do choro de criança que ela usava para me afetar e me fazer pedir desculpas de joelhos por coisas que eu não fiz e nem ao menos pensei em fazer. Não podia sentir pena ou nojo daquela criatura, ela era um enigma tão grande que eu ficava ao seu lado apenas para saber seu próximo pensamento, para eu poder entrar em seu mundo.
Eu me recordo todas as manhãs de seus costumes, de suas roupas, da forma do seu corpo. Não poderia esquecer aquele formato, aquela voz, aquele toque. Eu ainda a aguardo, como um cão leal sentado na porta de casa esperando seu dono, deixou de ser rotina e passou a ser obsessão ficar parado no porto esperando seu navio chegar e enquanto não chega eu prossigo minha vida procurando em diversas pernas o pano de minha Boneca.

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