sábado, 7 de abril de 2012

Boneca VI



Eu demorei um pouco para entender o por que fui deixado tão bruscamente, mas agora entendo com um pouco mais de clareza. Boneca era seu apelido por que era um doce e eu podia usa-la como bem entendesse, até mesmo quando ela não queria. Eu via nela todo um chamado para o sexo, o modo como abria suas pernas, o jeito que tirava suas meias, ou até o olhar desprotegido para um estranho. Ela cheirava libido e eu era um velho desocupado, eu adorava o cheiro de morango do seu chiclete, ou o aroma do seu perfume natural de mulher, ela era tão nova e eu tão tolo! As vezes eu me pergunto se a tratei como ela merecia, neguei-lhe tanto amor e ofereci tantos tapas e arranhões... Não me admira que agora eu esteja sozinho.
Minha Boneca não sabia seu valor por inteiro, ela sabia o que exercia sobre mim, mas não sabia o quão valiosa ela era. Quantas vezes minha Boneca virou minha Putinha, vulgar, vadia, solta na cama, mas presa pelos cabelos. Eu fazia isso para diminui-la, para me sentir forte, ver as veias em meu braço e as tiras vermelhas em seu rosto. As vezes ela não se negava, outras me cuspia e me odiava... Hoje em dia eu também me odiaria. Ela falava que não importava se eu fosse mal com ela, se no fundo a amasse, ela falava que eu podia bater-lhe, tirar-lhe as calças e arrancar-lhe a pele que se no fundo ela fosse minha mulher, para ela estava tudo bem.
Como as mulheres mentem, eu podia ver nos olhinhos dela o quão desprezível ela também se sentia, ela não estava só. Eu era muitas vezes um canalha por violentar com tamanho desejo sua carne, sabendo que ela, mesmo aproveitando o gozo, era complemente fiel e possessa pelo meu amor. Ódio, mil vezes ódio pelo meu olhar vazio e meu sorriso canastra enquanto que ela se contorcia de prazer e de lamentações por não conseguir se desprender de correntes imaginárias.
Eu tolo, sempre tolo, acreditei que mesmo minha Boneca sendo tapete e vadia, ela continuaria ao meu lado. Eu não sei em que momento ela se esqueceu de mim, ou se algum dia lembrou. O problema maior sempre fui eu, essa minha necessidade de ser homem e ela menina, uma menina! E eu abusando-lhe o caráter e o amor-próprio, observando sua fruição e a deixando cair em braços vazios, pois eu era incapaz de segura-la, conter-lhe uma vez na vida.
Eu não era suficiente, nunca fui. Talvez se eu fosse outro homem, um homem mais triste e menos confiante, um homem com mais amor e menos cigarros, talvez ela ainda estivesse do meu lado. Mas o que iria adiantar? O tempo é cruel e não perdoa, eu ainda sou um velho, muito mais velho do que antes, mas agora ela já deve ser uma moça e goza e aproveita cada canalha que lhe cruza a fuça.

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