terça-feira, 25 de outubro de 2011

Areia.




Meus músculos doem e minha cabeça lateja, já não aguento mais engolir tanta água e o sal começa a incomodar os meus olhos. Prendo a respiração só para ter o prazer de saber que não foi a última vez que senti o ar preencher os meus pulmões negros. Eu sinto o tempo todo que nado contra a maré.
Eu vejo a correnteza me arrastar e me atrasar, o mar está fundo e não consigo ficar de pé, há pedras por perto mas não são confiáveis, poderiam me salvar e no instante seguinte me jogar de volta para o mar como se eu fosse isca de tubarão. Há quanto tempo eu já estava nesse exercício? Meses, anos, horas? Já não sabia mais contar os dias, ou os minutos. Será que já é natal?
Eu já não consigo enxergar, já não consigo ouvir, não consigo mais falar. Sinto que afundo lentamente e uma calma estranha toma conta do meu peito, me sinto sorrindo d'baixo de tanta água. Em um impulso esperançoso procuro por um último suspiro, uma ultima energia que me faça voltar a nadar. Quantas pessoas abandonei? Quantos amores deixei de sentir? Quais ideologias eu larguei para não ser condenada? Demorei tempo demais para perceber os verdadeiros valores que me cercavam, demorei tempo demais para derramar lágrimas que não deviam ser aprisionadas, demorei tempo demais para começar a nadar.
E agora de nada adianta tanta lamuria, tanta angustia. Nadei como uma condenada, para ver a terra e morrer na praia.

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