domingo, 16 de janeiro de 2011

Dama do dia

Desejo, era a única palavra que Grabielle conseguia pensar, as lembranças da noite passada atormentavam-lhe a cabeça como a conta de luz atrasada. Estava seguindo sua miserável rotina quando se recordará do (in)feliz acontecimento, ela não sabe explicar por que tem esses flashes, provavelmente a cor negra do café a fez lembrar de um passado igualmente cego.
-Dúvido que você tenha visto um nascer-do-sol tão bonito quanto esse, a paisagem também ajuda, o verde das árvores, o cheiro do mar, isso não é ingênuo?- Gabrielle estava radiante mesmo com o rosto passado e a maquiagem esgotada continuava sendo deslumbrante, seu sorriso conquistador era mais perigoso do que os olhos de serpente que estavam (mal) pintados.- Desculpa, eu estou aqui falando sem parar e nem perguntei seu nome, como se chama?
-Não te interessa, você sempre aborda as pessoas assim? Invadindo seu espaço, interferindo o silêncio alheio?
-Tudo bem, um nome não importa mesmo, o meu é Gabrielle, mas pode me chamar de Maria, Clara, Luisinha. Você tem razão o nome não interessa mesmo, por que hoje em dia as pessoas só querem saber de nomes e esquecem de se conhecer, não é mesmo? É tão triste isso, casais ficam juntos durante anos e nem sabem dizer o que se passa no olho um do outro. São completos estranhos que reconhecem nomes. Vou reformular, minha pergunta, quem é você?
Em um impulso violento, o rapaz sem nome beija Gabrielle, como se fosse o ultimo beijo da sua vida, como se fosse a ultima vez que sentisse o corpo de uma mulher contra o seu. Parados olhando um para o outro, o estranho fixa o olhar no sol, seria a ultima vez que via um sol nascer tão belo.
- Obrigada, me sinto vivo agora. Adeus.
Como num despertar da consciencia Gabrielle folheia o jornal, primeira pagina: Homem mata esposa e se mata depois". Não era o café que a tinha feito relembrar o passado e sim a foto do desconhecido que a beijara em pleno nascer do dia.

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