quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Teia.

Cristiana era uma mulher forte, estava na casa dos trinta e no auge de sua beleza, não era casada, mas amava de todo o coração seu namorido Raimundo. Estavam juntos desde o começo da faculdade e mesmo sendo tão diferentes conseguiam se amar mais a cada dia que passava. Desde o começo, o relacionamento só teve um único problema, o ponto de vista poligamico de Raimundo, sempre muito mulherengo e galanteador, Raimundo era conhecido por sua lábia sedutora e por conseguir todas as garotas que paquerava. Até mesmo no ensino médio com algumas espinhas na cara, o rapaz conseguia conquistar quem quer que fosse, desde a princesa do colégio, até a mãe quarentona do melhor amigo. O grande problema, era que Cristiana era conservadora e até mesmo um pouco tola, acreditava cegamente no amor dos cinemas, na tradição da cultura e não abria caminho para o novo. Desde o primeiro dia que conheceu seu amado namorido, Cristiana tinha certeza de que iria o amar para o resto de sua longa e infeliz vida.
Como o tempo passa rápido! Os jovens adultos cheios de sonhos cresceram e os sonhos projetados começam a se tornar realidade, com uma vida financeira estável e uma casa grande com um carro usado na garagem a vida era só flores, até agora.
- Eu não acredito que você fez isso comigo, foram dez anos jogados na privada imunda de um boteco, como você pôde? Tantos anos de dedicação, de amor, de carinho, Deus! Quantas vezes eu me esqueci por você? Quantas vezes deixei minhas vontades para atender seus caprichos mimados e você me retribui com isso?- Cristiana estava sentada na ponta da cama, com uma mão segurava o cigarro na outra contemplava a camisa branca com uma bela marca de boca pintada de rosa.
-Meu amor, quantas vezes eu tenho que te dizer, isso não significou nada, você sabe que é você quem eu amo, eu quero você para ficar do meu lado para sempre. Elas não significam nada, não existe maior prova de confiança do que isso?- Raimundo estava parado na porta do quarto calmo como sempre, tranquilidade que irritava qualquer um em uma bela discussão.
- Você ainda tem coragem de dizer que isso é uma prova confiança? Durante anos eu fechei meus olhos para sua traições, para suas bebedeiras, mas agora todos os limites foram ultrapassados, você acha que eu sou o que? Um troféu, uma jóia cara, que você sabe que ta sempre ali para você apreciar e mostrar para os amigos, mas que nunca dá atenção ou o devido valor! Eu cansei Raimundo, não nasci para isso, para ser a mal amada, desprezada por quem mais amo, você é um canalha e eu sou uma idiota!- Cristiana aos berros, bate a porta e vai para sala, quebra o porta retrato com a foto mais bela do casal, existia uma rachadura entre eles, no coração da pobre moça e agora no suporte da foto.
- Você sempre soube que eu era poligamico, desde o primeiro dia que nos conhecemos, você sabia disso! Você fechou os olhos por que quis, por que eu nunca te impedi de também ter suas aventuras, você diz tanto sobre confiança, sobre lealdade, mas como podemos provar isso para o outro se não somos livres? De todas as mulheres que eu dormi, era para você que eu sempre voltava e não por obrigação, como um desses casais cansados um do outro, eu sempre voltei por que eu sempre te amei. Confiança, lealdade, são valores muito fortes para serem medidos com um simples ato carnal, traição seria se eu não te amasse mais e mesmo assim continuasse com você, por pena ou comodidade e isso meu bem, eu nunca fiz. Eu sou livre e você também, existe prova maior de confiança do que a liberdade? Será mesmo que você sempre me amou, ou só amou uma projeção de mim? Você é feliz com a sua ilusão e eu não sou ninguém para tirar sua felicidade, mas eu não posso me modificar por causa disso. Eu sinto muito, mas eu acredito que quem não tem confiança aqui é você, eu sempre te amei querida e eu sinto muito por você não entender isso.- Raimundo pegou sua pasta de trabalho, deu meia volta e se virou para rua, aquele fora o último dia que se viram. Ambos estão felizes agora, com filhos e casados, Cristiana finalmente encontrou alguém igualzinho a ela e Raimundo continuava a se aventurar como antes, sua esposa era tão feliz na ilusão. Afinal, quem somos nós para tirar a felicidade de alguém? Somos meros mortais esperando a morte chegar.

Um comentário:

  1. Excepcional. Diálogos prendem a leitura nos textos. Além da força que as falas dos personagens passa né. E o que me preocupa é quando e se realmente a imaginação um dia vai virar realidade.
    É esperar pra ver.
    Beijos.

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